quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Marcelo Serrado comemora o sucesso de Crô


“Eu sou fiel à Rainha do Nilo até meu último cílio. Prometo que nem em pensamento desgrudo dela. Cuido de massagear, maquiar, pentear, vestir, distrair e divertir Cleópatra". A devoção desmedida de Crodoaldo (Marcelo Serrado) por Tereza Cristina (Christiane Torloni) vem intrigando quem acompanha "Fina estampa", na mesma medida em que o jeitinho afetado e o look transadérrimo do mordomo lhe arranca risadas. Em apenas três semanas de novela, o "personal all" (faz-tudo) da dondoca já mostrou a que veio: é um dos grandes destaques da trama de Aguinaldo Silva.

— No dia seguinte à estreia, já via gente acenando para mim de dentro do ônibus, senhoras aplaudindo no restaurante... E os câmeras, que não paravam de rir durante as gravações? Foram meu primeiro termômetro. De cara, percebi que o personagem é mesmo muito popular! — conta Serrado, desta vez o único ator a interpretar um homossexual assumido no horário nobre da Globo: — "Insensato coração" teve uma porção, talvez por isso tenha cansado um pouco. Mas é aquilo: cada um no seu quadrado. O nosso gay é leve, divertido, solar... Crô é uma bichinha reprimida. E Aguinaldo quis um ator hétero para dar vida a ele. Pois não tenho problema algum com a minha masculinidade, em dar pinta. Radicalizei mesmo!

Radicalizou, mas com o cuidado de não cair no caricato:

— Tenho a preocupação de sempre baixar a bola em cena. Crô já tem uma roupa chamativa, um cabelo nada convencional, usa as expressões mais bizarras para se referir à patroa (Rainha do Nilo, Filha de Osíris, Divina Ísis, Pitonisa de Tebas, Sereia da Núbia e Nefertiti são algumas delas)... Imagina se eu ainda fizesse uma interpretação escandalosa? Viraria um carnaval! Por enquanto, só tenho recebido elogios. É ótimo andar pelo Projac e receber cumprimentos do diretor do mais alto escalão ao funcionário da limpeza. Só me faz pensar que estou indo pelo caminho certo. Meus vários amigos gays também aprovaram.

Marcelo Serrado caracterizado como Crô: óculos coloridos e roupitcha transada Marcelo Serrado caracterizado como Crô: óculos coloridos e roupitcha transada Foto: Divulgação/ TV Globo

Para a composição de Crô, antes mesmo de definido o figurino ("Quando boto aquela bermudinha ou a calça apertada, a voz e os trejeitos vêm com tudo"), Serrado assistiu a diversos desfiles de moda ("Ele é fashionista, eu faço o estilo blazer-camiseta-calça jeans-tênis") e começou a frequentar boates LGBT. Em alguns momentos, conta, passou por saias-justas:

— Na Danger, em São Paulo, teve um cara que me parou: "Marcelo Serrado, você por aqui?!". Tentei dizer que eu não era gay, que só estava ali a trabalho, mas ele não deu chance: "Não precisa explicar nada! Agora fiquei ainda mais seu fã!". E na 00, aqui no Rio, uma menina me abordou: "Pô, você é lindo! Posso te dar um beijo?". Nisso, surge o Sergio Penna, preparador de elenco que tem me acompanhado nesses lugares, e diz: "Ele não pode agora". A garota, que nem era carioca, deve ter voltado para a terra dela com a certeza de que eu não gostava de mulher (risos).

Aos 44 anos, o ator — que não confirma nem nega a solteirice — acabou por fazer uma descoberta que muito parece lhe ter interessado:

— As mulheres mais lindas frequentam esse tipo de boate. Elas adoram se divertir, dançar com os amigos gays! Quem sabe, por causa do Crô, eu também faça mais sucesso com a ala feminina?


O jeitinho fofo e querido de Crodoaldo, no entanto, pode mascarar um caráter duvidoso...

— Ninguém é uma coisa só, completamente bom ou mau. Crô é tão devoto de Tereza Cristina, tem tanta gratidão por ela ter bancado seus estudos e o acolhido, que é capaz de tudo, até de sujar as próprias mãos para vê-la satisfeita. Acho que ele é um pouco vilão, sim, e que pode se revelar. Quem sabe ele não passe para o lado de Griselda (Lilia Cabral) mais para a frente? — sugestiona Serrado, lembrando, ainda, do caso secreto que seu personagem mantém com um misterioso machão de escorpião tatuado no calcanhar: — Já gravei cenas com três atores diferentes. Especula-se que seja um dos frequentadores da rede de vôlei da praia, mas novos personagens vão surgir na trama... Aguinaldo pode estar dando pista falsa.

Diante de um universo tão rico de possibilidades, Marcelo Serrado é só sorrisos, claro. De volta ao casting global, depois de cinco anos integrando o primeiro time de atores da TV Record, ele comemora o que gosta de chamar de seu "primeiro protagonista na Globo":

— Sinceramente, se eu não tivesse me arriscado fora, nunca ganharia um papel com essa força, com essa importância na Globo. Por isso, tenho muito a agradecer à Record. O Crô só está sendo possível porque o Delegado Nogueira, de "Vidas opostas" (2006), e o Bruno Vilar, de "Poder paralelo" (2009), constam no meu currículo profissional. Além de o meu trabalho ter ganhado projeção aos olhos dos outros, pude provar para mim mesmo que posso ir a lugares radicais, ousar.

Diferentemente de Gabriel Braga Nunes, que regressou baseado num contrato por obra e, só depois do estouro em "Insensato coração", renovou com a emissora sob o status de astro de primeira grandeza, Serrado já tem garantidos, ao menos, três anos na Globo.

— Foi bom ele ter vindo antes, aberto as portas de forma tão bonita. Fiquei muito feliz com o sucesso do Gabriel, é um cara que merece. Estou na mesma expectativa, sem grandes ansiedades — afirma, completando: — Acho que há poucos bons atores na nossa faixa etária, dos 40. E, para mim, ser bom ator é ralar, estudar, se dedicar. Não existe essa de "acordei, fui lá e fiz". Não vai baixar um santo, do nada.

Sem propriamente considerar-se um galã ("Tenho lá o meu charme, o meu borogodó"), Serrado sabe do fascínio que exerce no público feminino. Interessado em mulheres "sinceras e um pouco loucas, porque as certinhas não são tão atraentes", tenta colocar a vida pessoal nos eixos, para impulsionar ainda mais a profissional (ele tem sido visto em companhia constante de uma loura, a bailarina Roberta Fernandes).

— Quando você está com alguém, fica mais tranquilo, focado no trabalho. A vida de solteiro me deixa um pouco disperso. Tenho o sonho de casar na igreja, ter mais filhos (ele é pai de Catarina, de 6 anos, fruto de sua relação com a atriz Rafaela Mandelli). Pronto, está aí o meu ponto em comum com o Crô: sou bem romântico, não?

Fonte: Jornal Extra

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