O que se viu até agora de Máscaras – a nova
trama da Record, que estreou semana passada – justifica o seu título. A novela
é enigmática, mascarada mesmo! Mas confunde mais do que desperta curiosidade.
Lauro César Muniz já afirmou que seus personagens são mascarados, e parece que
vai levar isso às últimas consequências. O autor usa de um recurso perigoso: o
de não entregar a história de cara. Não que isso seja ruim, mas na realização –
que é feita pela direção da novela – pode acabar confundindo o telespectador
desatento e afastá-lo.
Nota-se que Lauro e Renato Modesto – o
co-autor – não perdem tempo. Eles são incisivos no drama dos protagonistas e
impregnaram a trama com um clima pesado desde a primeira cena. Maria – vivida
por Miriam Freeland, a melhor do elenco até agora – é uma mulher com tensão
pós-parto que, supostamente, tentou matar o filho. Logo em seguida, teve seu
bebê raptado, para depois ela ser raptada. O marido e o irmão de Maria se
acusam mutuamente. Mas, quem está dizendo a verdade? Maria? Otávio, o marido
(Fernando Pavão)? Martim, o irmão (Heitor Martinez)? Todos ou nenhum?
E se por trás deste suposto drama familiar
estiver uma organização internacional mal intencionada? Intriga internacional e
teorias da conspiração já foram abordadas por Lauro César Muniz em novelas como
Poder Paralelo (2009-2010) e O Salvador da Pátria (1989). Em Máscaras, já ficam
claras as intenções do autor de repetir essa temática, com personagens situados
fora do país, como Martim, a prostituta Manu (Gisele Itié) e a personagem de
Paloma Duarte, a que não ousa dizer seu nome.
Percebe-se, entretanto, que existe um
desacerto entre os autores e a realização da novela. Fotografia, trilha sonora,
cenários e elementos de cena destoam do que os personagens falam. Explico: é
como se os autores estivessem querendo passar uma mensagem e os diretores não
estivessem conseguindo realiza-la à altura. O texto de Lauro César Muniz é
certeiro, irônico e inteligente. Mas a impressão que se tem é que ele não
encontrou na produção da novela um ambiente propício para causar o efeito que
propõe.
A cena do jantar em que Valéria (Bete Coelho)
reúne os amigos para anunciar o “descasamento” com o marido, Gomide (Henri
Pagnocelli), poderia ter sido ótima, se não fosse tão mal realizada. Sabemos
que são vários atores experientes em cena, o elenco é bom. Mas a direção fez
tudo parecer capenga. O mesmo para as cenas que se seguiram, em que as mulheres
ficam sozinhas, em especial a que Sônia (Bruna di Tulio) tira a peruca e avisa
a todas que está com uma doença terminal. São cenas longas, declamadas, sem
trilha sonora, que tornam os diálogos cansativos.
A novela está lenta e existe um claro
desacerto entre os autores e a produção. Mas ainda é cedo para afirmar que
paira no ar uma sombra negra de Os Gigantes. Tem muito chão pela frente, muita
história para rolar e tudo pode mudar. Inclusive a abertura – fica a dica!
Fonte: Nilson Xavier, do UOL
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