Há três semanas, os autores Filipe Miguez e
Izabel de Oliveira passaram de colaboradores a titulares de uma trama pela
primeira vez. O capítulo de estreia da atual novela das sete, Cheias de Charme,
virou assunto nas redes sociais e alcançou audiência considerada boa para o
horário, 33 pontos.
A história das três empregadas domésticas –
Penha (Taís Araújo), Rosário (Leandra Leal) e Cida (Isabelle Drummond) – que se
unem para vencer na vida diz um pouco sobre a trajetória profissional de
Miguez, que colaborou em quatro novelas de Aguinaldo Silva antes de se lançar
em Cheias de Charme. Conhecido por basear seus enredos em personagens femininas
e fortes, o autor de Fina Estampa é a principal inspiração para o estreante.
" Sinto muito a influência do mestre no que escrevo."
A parceira, Izabel de Oliveira. também teve
uma mentora: Ana Maria Moretzshon, com quem trabalhou em seis novelas. A
seguir, os dois falam sobre a trajetória profissional que percorreram até se
tornarem autores titulares.
A
abertura para novos talentos é uma necessidade da emissora?
Filipe Miguez: É um processo natural. Vejo como uma responsabilidade grande entrar
para o time de feras que fizeram e fazem a televisão brasileira. Acho que
um dia algum neurocientista ainda vai investigar o cérebro dos autores de
novela.
Izabel
de Oliveira:
É muito bacana pertencer a uma geração com nomes tão fortes como Duca Rachid,
Thelma Guedes, Licia Manzo, para citar alguns - fora os que ainda vêm por aí. E
um privilégio ver nossas histórias no ar junto a tramas de gênios como Gilberto
Braga, Aguinaldo Silva, Ricardo Linhares, Sílvio de Abreu, Glória Perez e
tantos outros.
Como vê
o ofício de escrever novelas?
Filipe
Miguez:
Como um tremendo desafio, uma imensa responsabilidade e uma realização
profunda. A novela é a dose de ficção diária que ajuda o povo brasileiro a
elaborar suas questões, enquanto emociona e diverte. Não é pouca coisa.
Izabel
de Oliveira:
É muito trabalhoso, você tem que ser muito disciplinado, mas é apaixonante.
O que
coloca do seu lado pessoal nas tramas?
Filipe
Miguez:
Escrever é sempre muito pessoal. Diria que coloco o meu olhar sobre as coisas.
Izabel
de Oliveira:
A gente tem um país tão incrível e um povo tão criativo, acho que o orgulho que
sinto de ser brasileira acaba aparecendo nas minhas histórias.
Ter
colaborado com autores renomados influenciou seu estilo?
Filipe
Miguez:
Acho que não tem autor de novela que não goste de um personagem feminino forte,
já que as tramas geralmente giram em torno de heroínas e vilãs. Mas ter
trabalhado com o Aguinaldo Silva me influenciou de diversas maneiras. Fiz
quatro novelas com ele e sinto muito a influência do mestre no que escrevo.
Izabel
de Oliveira:
A Ana Maria Moretzshon foi a primeira autora a me chamar para trabalhar, na
novela Perdidos de Amor. No total, colaborei com ela em seis novelas. A
primeira trama com que colaborei na Globo foi Esplendor. A Ana me ajudou a dar
os primeiros passos como roteirista, me ensinou muita coisa. É uma autora com
uma intuição imensa, muita noção de estrutura.
Como
começou a escrever?
Filipe
Miguez:
Lembro de aos 13 anos já ter uma relação de tietagem com Gilberto Braga. Além
de adorar as tramas e o gênero, achava que aquela era uma vida que eu gostaria
de ter, trabalhando em casa, emocionando as pessoas, contando histórias para
tanta gente.
Izabel
de Oliveira:
Eu escrevo desde criança, fazia livrinho de história quando era menina e sempre
fui apaixonada por novela. Com nove anos de idade, assisti a Dancin' Days, que
mudou a minha vida. Eu era completamente fascinada por aqueles personagens.
Acho que foi aí que começou esse desejo de escrever. A minha dissertação de
mestrado foi sobre folhetim, eu nunca deixei de me interessar pelo gênero. Essa
forma de narrar uma história, em fatias, cada dia revelando um pouquinho da
trama até deixar o fã meio viciado, sempre me encantou.
Qual
sua formação?
Filipe
Miguez:
Me formei em Comunicação Social, como jornalista e publicitário, mas nunca
trabalhei com isso. Meu primeiro emprego formal foi na própria TV Globo, como
roteirista.
Izabel
de Oliveira:
Eu sou formada em jornalismo e fiz mestrado em Literatura Comparada. Trabalhei
dois anos como assistente editorial.
Qual
novela foi mais marcante para você?
Filipe
Miguez:
São tantas... Vale Tudo, dos mestres Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor
Bassères; Renascer, de Benedito Ruy Barbosa; Guerra dos Sexos, de Silvio de
Abreu; Vereda Tropical, de Carlos Lombardi; Locomotivas, de Cassiano Gabus
Mendes; Selva de Pedra, da Janete Clair; Senhora do Destino, do Aguinaldo, na
qual tive a oportunidade de participar.
Izabel
de Oliveira:
Foram várias, mas vou citar Dacin Days, porque teve esse efeito “devastador” na
minha vida. De personagens, me marcaram a Maria de Fátima, a Viúva Porcina e a
Gabriela, entre outras. Geralmente, me marcam as personagens femininas.
Qual é
a primeira coisa que pretende fazer depois de entregar o último capítulo de
Cheias de Charme?
Filipe
Miguez:
Se for de madrugada como costuma ser, vou ver o dia nascer ouvindo Manhã de
Carnaval, de Luiz Bonfá, na voz da Elisete Cardoso. Há muitos anos, este tem
sido o meu ritual do ponto final.
Izabel
de Oliveira:
Vou para a Bahia!
Tem
planos para uma próxima novela?
Filipe
Miguez:
Izabel e eu já estamos trocando umas ideias, mas é cedo para falar! (Risos)
Fonte: Revista Veja
Nenhum comentário:
Postar um comentário