sexta-feira, 8 de junho de 2012

Tramas de “Avenida Brasil” lembram Nelson Rodrigues


João Emanuel Carneiro já afirmou que sua inspiração para os personagens e tramas de Avenida Brasil vem da literatura. Na novela existem referências a Dostoievski, Charles Dickens e Alexandre Dumas, entre outros escritores. A literatura também está presente de uma forma mais explícita: através dos livros que Nina (Debora Falabella) dá para Tufão (Murilo Benício) ler, a fim de que ele abra sua cabeça e desperte para as coisas que acontecem ao seu redor. O ex-craque já leu de Kafka e Flaubert a Brás Cubas, Eça de Queiroz e Machado de Assis. Essa semana, duas tramas que ganharam destaque apontam uma nova fonte de inspiração: Nelson Rodrigues.

Leleco – brilhantemente interpretado por Marcos Caruso – é o tiozão boa-praça que namora a jovem e bela Tessália (Débora Nascimento), mas que morre de ciúmes da moça – o que denota sua insegurança por ser bem mais velho que ela e não estar à altura para concorrer com os rapagões do Divino. Agora Leleco inventou de contratar o galalau Darkson (José Loreto) para dar em cima de sua mulher e colocar a fidelidade dela à prova. Leleco não tem pudor algum em externar a sua fragilidade em relação a Tessália e, por conta de sua loucura, não mede as consequências ao empurrar a namorada para a cova dos leões. Pelo seu comportamento, podemos afirmar que Leleco é, por excelência, um personagem nelsonrodrigueano.

Diógenes (Otávio Augusto) criou sozinho o único filho, Roni (Daniel Rocha Azevedo), depois que a mãe dele – Soninha Catatau (Paula Burlamaqui), uma atriz pornô – sumiu pela vida. O pai sempre escondeu do garoto a identidade da mãe. Agora Soninha resolveu aparecer, arrependida, dizendo que largou a vida mundana, tornou-se religiosa e até trocou de nome – passou a se chamar Dolores. Ela quer uma aproximação com seu filho, no que Diógenes é absolutamente contra. Mas um fato vem aumentar esse imbróglio: Roni é gay e nem mesmo o pai sabe disso. Bem, pelo menos o público acha que Diógenes não sabe… Será que não mora aí a real razão do pavor de Diógenes pela aproximação de Soninha e Roni? Nelson Rodrigues se sentiria homenageado.

Poderíamos concluir que várias outras tramas da novela lembram histórias ou personagens de Nelson Rodrigues, como a messalina Suelen (Ísis Valverde), o malandro Silas (Ailton Graça), que se finge de doente para sensibilizar a namorada, ou Cadinho (Alexandre Borges) e suas três mulheres. A própria família de Tufão é tipicamente nelsonrodrigueana – todos convivem numa mesma casa, se amando e se aturando, com segredos e traições. Aliás, assim como o ex-craque, Nelson Rodrigues também era um apaixonado por futebol. Só falta Nina dar alguma história do Anjo Pornográfico para Tufão ler e, finalmente, ele cair em si e entender a vida como ela é.

Fonte: Nilson Xavier, do UOL

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