quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Situações incoerentes cansam público de “Avenida Brasil”


Em meu último texto, chamei a atenção para o fato de Cheias de Charme, a novela das sete, ter perdido o gás com o passar dos capítulos.

O mesmo se pode afirmar sobre Avenida Brasil? Sim e não.

Avenida Brasil foi cativando o público aos poucos e, numa escala ascendente, teve um ápice de repercussão – lá pelo capítulo 100, quando Nina (Débora Falabella) revelou para Carminha (Adriana Esteves) que era Rita e começou a chantageá-la com fotos. Só que esse gráfico ascendente de popularidade tem caído muito desde então. Com uma semana de Nina tripudiando Carminha, a “heroína” Nina (se é que podemos chamá-la assim) passou a perder muitos seguidores. E a novela, como um todo, também.

Avenida Brasil, sempre com ganchos muito bons em todos os capítulos, não teve “barriga” (aquele momento na trama em que nada acontece). Mas padeceu de outro mal: a enrolação. Já se passaram 50 capítulos desde que Nina começou a chantagear Carminha com as famigeradas fotos, e a trama parece ter andado em círculos, com alguns entrechos nada coerentes.

Novela é uma obra longa e pode chegar um momento em que todos ficam cansados, até o público. Não é fácil manter o interesse durante tanto tempo, então, às vezes, a enrolação se faz até necessária. Mas além de enrolar, a trama de João Emanuel Carneiro vem subestimando seu público. E este é um pecado sem perdão para a fidelização de audiência.

Cada novela segue uma linha, uma proposta, que pode ser realista, naturalista, caricata, fantasiosa, etc. Cabe ao público embarcar na história ou não. Não se exige 100% de realismo de uma novela, caso contrário não seria folhetim, seria documentário, ou outro tipo de programa. Mas um mínimo de verossimilhança se faz necessário em uma obra que tem a pretensão de seguir uma linha realista de dramaturgia. E é aí que Avenida Brasil tem falhado, ou, ao menos, extrapolado.

Os chamados furos no roteiro têm cansado o telespectador mais entusiasta de Avenida Brasil. Nina entregou cópias das fotos para amigos, para se proteger. Mas onde está o cartão de memória da câmera? E por que não salvou as fotos em um pendrive? A trama dá a entender que esses detalhes foram ignorados, por mais absurdo que isso possa parecer – afinal Nina é uma garota moderna, usou Internet para se aproximar da família de Tufão (Murilo Benício) no início da história. É inconcebível que esses detalhes não tenham passado por sua cabeça. A não ser que esta venha a ser a sua salvação no futuro – um entrecho para ser usado mais adiante.

É até compreensível que Débora e Begônia (Nathalia Dill e Carol Abras) não tenham tido curiosidade de olhar o conteúdo das fotos – afinal, se Begônia tivesse visto, teria reconhecido Max (Marcello Novaes) e não cairia em seu golpe. No capítulo de terça (18/09), Nilo (José de Abreu) roubou as cópias das fotos que estavam com Débora. Ela carregava em sua bolsa um envelope que era para estar guardado a sete chaves? E quem sai do banco carregando grandes quantias em dinheiro pede para ser roubado, não é mesmo?
Detalhes assim não passam despercebidos pelo telespectador, que se sente traído, feito de bobo, subestimado. Foram pelo menos 40 capítulos em que situações para lá de forçadas e inverossímeis afastaram parte do público que torcia pela novela. Avenida Brasil não perdeu seu fôlego, continua com bons ganchos. Mas caiu na armadilha das soluções fáceis e inverossímeis que não condizem com o excelente roteiro apresentado até então. Resta aguardar para que o desfecho dessa história justifique tais situações.

Fonte: Nilson Xavier, do UOL

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