sábado, 17 de novembro de 2012

29 anos sem Janete Clair


Janete Clair é considerada uma das maiores novelistas da história de nossa televisão. Ficou conhecida por sua habilidade em prender o público por meses a fio com suas histórias melodramáticas, que se tornaram grandes sucessos populares, principalmente durante a década de 1970. “A Maga das Oito” era assim chamada por seu poder catalisador de massas.

Ela faleceu há 29 anos, em 16 de novembro de 1983, vítima de um câncer no intestino, que havia sido diagnosticado quatro anos antes. Na época, Janete escrevia a novela Eu Prometo e, após sua morte, coube a Glória Perez, sua colaboradora, finalizar os trabalhos.

Mineira da cidade de Conquista, Janete Clair nasceu em 25 de abril de 1925. Seu nome verdadeiro era Jenete Stocco Emmer. Iniciou sua carreira em 1943 como atriz na Rádio Tupi Difusora de São Paulo. Começou a roteirizar radionovelas revelando-se uma exímia contadora de histórias. Nesta época, escreveu cerca de 30 títulos, principalmente na Rádio Nacional do Rio de Janeiro.

Janete Clair foi casada com o dramaturgo Dias Gomes que, por influência dela, foi também parar na televisão e acabou por escrever várias novelas de sucesso.

Regina Duarte como Andreia em “Véu de Noiva” (1969)

A primeira telenovela de Janete foi O Acusador, apresentada pela TV Tupi do Rio de Janeiro em 1964 – ainda não era diária. Em 1967 estreou na TV Globo causando furor: chamada para dar um jeito na baixa audiência da novela Anastácia, a Mulher Sem Destino, a novelista promoveu um terremoto que dizimou a maioria dos personagens e deu início a uma nova trama, com os poucos que restaram, cortando gastos e levantando o Ibope.

Nesta época, suas novelas eram supervisionadas pela cubana Glória Magadan, que ditava as regras no setor de dramaturgia da Globo e tinha pouca familiaridade e comprometimento com a realidade brasileira. Sob o crivo de Magadan, Janete escreveu ainda Sangue e Areia, Passo dos Ventos e Rosa Rebelde, entre 1967 e 1969, dramalhões de capa-e-espada que se passavam em países longínquos.

Em 1969, com a saída de La Magadan da Globo, Janete pôde enfim mostrar seu trabalho. Véu de Noiva (1969-1970) foi o primeiro sucesso e marcou a estreia de Regina Duarte na Globo. Janete criou para esta novela um “quem matou?” que movimentou a trama e a audiência.

 Glória Menezes e Tarcísio Meira (Diana e João) em “Irmãos Coragem” (1970)

Entre 1970 e 1971, a Globo levou ao ar uma de suas novelas mais longas: Irmãos Coragem (de 328 capítulos), a consagração de Janete Clair como novelista. Foi a primeira vez que a audiência masculina se voltou para uma telenovela. Não era para menos: a trama era um faroeste caboclo com muitos tiros e lutas corporais. E ainda abordava os bastidores do futebol no ano em que o Brasil sagrou-se tricampeão mundial na Copa do México.

Selva de Pedra (1972) ficou famosa por registrar no Rio de Janeiro e em São Paulo impensáveis 100% de audiência, no capítulo 152 – em que a protagonista Simone (Regina Duarte) era desmascarada na polícia pelo ex-noivo, Cristiano Vilhena (Francisco Cuoco).

 Francisco Cuoco e Regina Duarte (Cristiano e Simone) em “Selva de Pedra” (1972)

Pecado Capital (1975-1976) é considerada pela crítica especializada a melhor novela de Janete Clair. Incentivada pela necessidade de se reciclar, a autora passou a incluir um maior realismo às suas tramas. Mérito também da direção de Daniel Filho, ao retratar o subúrbio do Rio de Janeiro da época.

O Astro (1977-1978) parou o Brasil – literalmente – no último capítulo, quando se revelou na trama a identidade do assassino de Salomão Hayalla (Dionísio Azevedo), num dos “quem matou?” mais emblemáticos da história de nossas novelas. Três dias depois de sair do ar, Carlos Drummond de Andrade escreveu em sua coluna de jornal: “Agora que O Astro acabou, vamos cuidar da vida, que o Brasil está lá fora esperando.” Foi nessa coluna que Drummond apelidou Janete de “Usineira de Sonhos”.

 Glória Menezes e Tony Ramos (Ana Preta e André) em “Pai Herói” (1979)

Pai Herói (1979) foi outro sucesso arrebatador que atingiu grande repercussão e audiência. Trabalhos impecáveis e memoráveis de Glória Menezes, como Ana Preta, e Paulo Autran, como Bruno Baldaracci, em sua estreia em novelas.

Além de colaborações em obras de outros novelistas, e vários Casos Especiais escritos, Janete Clair escreveu também as novelas O Homem Que Deve Morrer (1971-1972), O Semideus (1973-1974), Fogo Sobre Terra (1974), Bravo! (1975-1976) – com Gilberto Braga, Duas Vidas (1976-1977), Coração Alado (1980-1981) e Sétimo Sentido (1982).

Quatro novelas suas tiveram remakes na Globo depois de sua morte: Selva de Pedra (em 1986), Irmãos Coragem (em 1995), Pecado Capital (em 1998) e O Astro (em 2011). Em 1987, o novelista Wálter Negrão se baseou em uma antiga radionovela de Janete – A Noiva das Trevas – para escrever Direito de Amar. Em 2009, o SBT comprou os direitos sobre sua obra radiofônica e levou ao ar Vende-se um Véu de Noiva, trama que havia originado a novela Véu de Noiva, da Globo, em 1969.

 Betty Faria e Francisco Cuoco (Lucinha e Carlão) em “Pecado Capital” (1976)

Em depoimento ao Museu da Imagem e do Som, Janete Clair declarou:

“Eu acho que eu entendo um pouco da psicologia do povo, eu sei o que é que ele gostaria de sentir naquele momento, se é uma emoção de alegria, se é uma emoção de tristeza, se é uma emoção de drama… Então, eu acho que, você sabendo dosar isso bem – eu não digo que seja uma fórmula pra se atingir o sucesso – mas é uma maneira de se atingir o grande público. É uma comunicação assim… de gente para gente, de emoção para emoção. Eu acho que é isso, não pode ser outra coisa, eu não estudei para isso! É uma intuição. É um sexto sentido.”

 Francisco Cuoco como Herculano Quintanilha em “O Astro” (1978)

Fonte: Nilson Xavier, do UOL

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