“Lado a Lado”, a novela das seis da Globo –
escrita por João Ximenes Braga e Cláudia Lage – que terminou nesta sexta-feira
(08/03), foi muito mais do que um folhetim de época. Retratar eventos
históricos do Rio de Janeiro da década de 1910 (poucas vezes vistos
anteriormente em TV) foi o seu grande trunfo. E dos mais louváveis.
É bom quando um programa de televisão, cujo
principal objetivo é o entretenimento, se propõe também a ensinar e informar.
Neste quesito, “Lado a Lado” saiu-se muito bem. Direção competente, produção
bela e requintada, em uma reconstituição de época das mais perfeitas.
Ótima sacada fazer do personagem Zé Maria, de
Lázaro Ramos, uma espécie de Forrest Gump (Tom Hanks no filme homônimo) que
acompanha ou protagoniza os fatos históricos narrados na novela – entre outros,
as revoltas da Vacina e da Chibata, o advento do futebol e do samba, o fim dos
cortiços e o processo de favelização do Rio (o Bota Abaixo).
Por outro lado, a novela desviou-se do foco
histórico ao desenhar um estilo que dialogou muito com o nosso tempo. Para o
seu bem – como a excelente trilha sonora contemporânea – e para o seu mal –
como gírias e expressões atuais e personagens muito fincados em 2013 (como a
espevitada Neusinha, interpretada por uma Maria Clara Gueiros que abusou dos
“adoooro!” e só faltou soltar um “vem cá, eu te conheço?”).
Apesar de seus perfis de “mulheres à frente
de seu tempo”, as heroínas Isabel e Laura (Camila Pitanga e Marjorie Estiano)
soaram modernas demais para o período da novela: pareciam mulheres de 2013 que
foram catapultadas para o passado. Por um lado é bom porque intensifica o
perfil das personagens. Por outro, fez – por exemplo – soar estranhos os
embates entre a vilã Constância e sua filha moderninha Laura. O tom empostado
dos argumentos retrógrados e preconceituosos da ex-baronesa (totalmente
condizente com a personagem e sua época) fez Laura parecer um ET quando
proferia o seu discurso libertário. Faltou sutileza.
Diga-se de passagem, Patrícia Pillar e
Marjorie Estiano brilharam a novela inteira com suas interpretações. Suas
personagens representaram bem os extremos dessa ponte entre o passado mostrado
na novela e a contemporaneidade. No elenco de “Lado a Lado” destacaram-se
também Caio Blat, Milton Gonçalves, Christiana Guinle, Isabela Garcia, Débora
Duarte e o novato em televisão Álamo Facó (o Quequé).
Dentro de sua proposta histórica, o didatismo
de “Lado a Lado” incomodou apenas nos momentos em que o folhetim falhou. As
idas e vindas das amigas Laura e Isabel se arrastaram pelos seis meses da
novela. O horário e a época pediam uma trama mais ágil. Prejudicada pelas eleições
no ano passado e pelo Horário de Verão, a audiência em São Paulo não
correspondeu ao capricho da produção: uma média de 18 pontos, muito abaixo do
esperado.
Também as personagens protagonistas enervaram
em algum momento. Baluartes na luta pelos direitos das mulheres, a negra Isabel
e a descasada Laura (muito bem defendidas por suas intérpretes) em algum
momento deixaram para trás seus discursos para mostrar um lado bem egoísta,
quando defendiam seus interesses particulares. O vai-e-vem de Laura e Edgar
(Thiago Fragoso) cansou, pela intransigência dela. E a insistência de Isabel em
afastar o filho da avó Constância quase fez com que se torcesse pela vilã.
Em sua fase final, “Lado a Lado” andou em
círculos e só despertou na última semana. O último capítulo apresentou uma
situação um tanto quanto clichê demais para uma novela que tinha a pretensão de
se apoiar em fatos históricos e assim criar links com a realidade: todos os
vilões se deram mal.
É necessário um mínimo de coesão e sutileza
ao misturar folhetim com História, passado com presente e diálogos entre
personagens rebuscados de 1910 com personagens coloquiais atuais. Ainda que uma
obra bem acabada – acima da média até – pareceu que “Lado a Lado” não escapou
do chavão da metralhadora desgovernada, a que atira para todos os lados sem se
preocupar com o foco.
Fonte: Nilson Xavier, do UOL
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