Depois de ver os primeiros sete capítulos de
“Flor do Caribe”, comecei a elencar os motivos pelos quais estou gostando da
novela. Anotei: boa história, diálogos bem escritos, direção sóbria e
competente, paisagens deslumbrantes, duas atrizes lindas, um vilão bem mau e
carismático…
Olhei para a lista e pensei: mas essas não
são características obrigatórias em uma novela? É verdade. Deveriam ser. Mas
com freqüência não têm sido.
Pensando na safra muito irregular dos últimos
anos, na qual o número de decepções é superior ao de destaques, creio que
justifica-se festejar uma novela por oferecer ao espectador ao menos o básico
necessário para o entretenimento.
E acho que “Flor do Caribe” vai além do
básico. Escrevendo ficção para a TV há mais de 50 anos, Walther Negrão criou
uma trama engenhosa, que sugere muitos desdobramentos e, mais importante, já se
mostrou cativante. Em poucos capítulos, o autor lançou as iscas necessárias
para capturar a atenção do espectador.
É verdade que o próprio Negrão já desenvolveu
uma novela com trama semelhante, “Vila Madalena” (1999), como lembrou Nilson
Xavier, do blog Teledramaturgia. O autor
também não esconde que um aspecto central da história foi adaptado daquele que
é uma espécie de pai de todos os folhetins sobre vingança, “O Conde de Monte
Cristo”, de Alexandre Dumas, publicado originalmente em capítulos num jornal
francês entre 1844 e 1846.
“Flor do Caribe” se passa numa pequena
cidade, no Rio Grande do Norte, cuja economia é mantida pela pesca, o turismo e
a exploração do sal. A história começa em 2006, quando Alberto (Igor Rickili) engana
o melhor amigo, Cassiano (Henri Castelli), para ficar com a sua noiva, Ester
(Grazi Massafera). Como no romance de Dumas, o herói passará anos preso
injustamente, num lugar distante, e voltará para se vingar do vilão e
reconquistar o coração da amada.
Negrão já sugeriu vários desdobramentos da
trama principal. O principal envolve o pai da mocinha e o avô do vilão. Samuel
(Juca de Oliveira, acima), pai de Ester, nasceu na Holanda em uma família de
origem judaica e viu os pais serem levados para um campo de concentração
nazista. Joalheiro, é casado com a “cabocla” Lindaura (Ângela Vieira) e sofre
com os pesadelos de guerra. Já o avô de
Alberto, Dionísio (Sergio Mamberti, esq.), é a figura mais rica do lugar e prosperou
com a produção e exportação de sal e a mineração de tungstênio e diamantes.
Outras histórias de “Flor do Caribe” também
parecem atraentes, ainda que não originais. Há o conflito de gerações e
ambições numa família de pescadores, o sofrimento dos trabalhadores braçais das
minas de Dionísio, bem como o cotidiano de uma vila dependente do turismo, além
do rapaz bobo (José Loreto) que conversa com a cabra.
Além de Grazi Massafera, há a presença
igualmente luminosa de Débora Nascimento no papel de Taís, irmã de Cassiano, e
uma fotografia que tem tirado o fôlego com a exibição de imagens de praias e
dunas do Rio Grande do Norte. Sem exageros, até o momento, a direção de Jayme
Monjardim mantém a novela num trilho muito adequado.
A audiência da primeira semana foi pior até
que a de “Lado a Lado”, a trama anterior, maior decepção no Ibope em muito
tempo. A novela de Negrão teve uma média de apenas 16,8 pontos no período.
Espero que vá além disso. Posso estar enganado, mas “Flor do Caribe” parece
daquelas novelas que vão mexer com o espectador.
Fonte: Mauricio Stycer, do UOL
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