segunda-feira, 3 de junho de 2013

Mateus Solano e o sucesso da “bicha má”


Algo inquestionável atualmente é o sucesso de Félix, personagem de Mateus Solano em "Amor à Vida", comentário em rodas de amigos e assunto nas redes sociais. Inegável também que, apesar da fina ironia (e por que não dizer do sarcasmo?), o papel do ator tem sido de grande contribuição social.

Em um País onde prevalece a patrulha do politicamente correto e o falso moralismo (com bancada evangélica propondo em Brasília projeto para legalização da "cura gay"), Félix surge pintoso e com tiradas cada vez mais inspiradas. Quem nunca conheceu um gay como ele? Quem não vê um Félix entre os amigos ou colegas de trabalho? A diferença são as doses de vilania.

O personagem caiu no gosto popular, pois seduz pelo lado divertido - ainda que vários pontos pesem contra ele. Félix trai a mulher (Edith, Bárbara Paz) com homens; rejeita e maltrata o filho (Jonathan, Thalles Cabral); rouba o pai (César, Antonio Fagundes) e o pior: enganou a própria irmã (Paloma, Paolla Oliveira) ao jogar a filha dela numa caçamba de lixo.

Talvez essa cena forte do primeiro capítulo (para mostrar logo de cara o caráter do rapaz e que ele não está para brincadeiras), tenham acentuado as comparações com Carminha, a vilã mór de Adriana Esteves, em "Avenida Brasil". O próprio Solano fez questão de despistar, alegando não ser uma "Carminha de calças".

Embora em alguns momentos esteja levemente exagerado, o ator está arrasando em cena - e vai seguir - dando de ombros aos críticos -, podem protestar, ameaçar boicote ou espernear. Solano deixa transparecer as intenções de Félix nos olhares e nos trejeitos. É ator, ponto. E o autor, Walcyr Carrasco, precisava se redimir com ele após aquela furada de "Morde e Assopra" (2011).

Seja como for, Carrasco estreia inspiradíssimo com um texto no horário das nove. Faz de Félix aquele vilão amado e odiado, que parece agradar tanto - com exceção de Lívia Marini (Claudia Raia), em "Salve Jorge", que chamou atenção pela caricatura. Carminha, apesar dos pesares, também tinha seus momentos de comédia e humanidade que a aproximavam dos simples mortais. E isso não tirava sua credibilidade como vilã.

Ao mesmo tempo em que, dissimulado, dispara pérolas como "Salguei a Santa Ceia", Félix se ajoelha aos pés da esposa, assume que "nasceu assim" e "jura" que vai se trancar no armário com cadeado, reprimindo seus desejos homossexuais como sempre fez. Mas quem fica trancada é a mulher. Ele segue enrustido, caçando "anjinhos" (como chama um amante sarado) na Internet ou nos corredores do hospital onde trabalha, sempre destilando seu veneno. É aquele tipo para ser lido nas entrelinhas...

Félix é rico, fino, bem nascido, ligado em moda e tem uma relação muito próxima com a mãe (Pilar, Susana Vieira). O pretexto para a vilania é a inveja que sente da irmã, a preferida do pai. Por meio dele, o autor deixa claro que, independentemente de sexualidade, existem pessoas boas e más, cada um com suas alegrias e frustrações. O contraponto será o casal gay feliz e bem resolvido, defendido por Thiago Fragoso e Marcello Antony. Um deles até despertará a paixão na personagem de Danielle Winits.

Ou seja, sexualidade não tem nada a ver com caráter. Homossexualidade não tem nada a ver com opção ou doença. Quem optaria pelo mais difícil? Por sofrer preconceito, encarar olhares e comentários infundados? Aos que pregam a cura gay, falta avisar que o termo homossexualismo foi derrubado não é de hoje pela Organização Mundial da Saúde (OMS) justamente pelo fato de "ismo" ser sufixo de doença. É incorreto usá-lo.


Só não esperemos o tão proclamado beijo gay, não só pela danosa mistura de religião e política no Brasil, mas por tudo que já citei acima. Nesse ponto, nossa vizinha Argentina, terra do Papa Francisco, está bem mais avançada. Não que não tenha havido rejeição ou torcida de nariz, mas por lá já passaram do simples beijo gay.

Hoje casais homossexuais, não só se beijam em novelas como rolam na cama sem roupa. Exemplos foram as bem-sucedidas "Los Exitosos Pells" (2008/09) e "Botineras" (2009/10), com personagens homossexuais. Nesta última (cujo título remete ao que chamamos de Marias Chuteiras), o casal gay era formado por dois jogadores de futebol e seus dramas se tornaram a sensação da história - elevando a audiência.

Félix mostra ser mais um resultado da repressão da verdadeira condição sexual, por pressão da família, da sociedade, por conceitos morais e religiosos passados desde a infância - e que aprisionam tanta gente, não só no campo da sexualidade. Mais uma prova de que cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é... ainda que seja uma "Bicha Má"!

Fonte: Yahoo

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