segunda-feira, 22 de julho de 2013

Versão de "Fina Estampa" inaugura era na Telemundo


A noite é de festa nos estúdios da Telemundo, ascendente rede de TV americana em língua espanhola. Um tapete vermelho foi estendido no corredor, onde o elenco da novela “Marido en alquiler” e executivos aguardam, entre vinhos e canapés, a exibição do primeiro capítulo da produção — um remake de “Fina estampa”, que estreou na Globo em 2011 — num telão montado ao lado do cenário da casa para onde Griselda, a personagem principal, eventualmente se mudará.

Quem se acomoda a tempo de pegar o finzinho do capítulo de “Dama y obrero”, a novela que antecede o horário nobre da emissora, logo entende o frisson em torno de “Marido en alquiler” (“Marido de aluguel”, diga-se, era o título original da trama de Aguinaldo Silva). Após um trimestre glorioso, no qual duas novelas tiveram média de mais de um milhão de espectadores, a Telemundo substitui “La patrona”, que terminara na véspera, 9 de julho, em grande estilo. E o salto — de investimento, de qualidade — aparece desde a primeira cena, transportada do Jardim Oceânico, na Barra carioca, para Hollywood Beach, em Miami. Novelas hispânicas, como se sabe, não costumam ser gravadas em externas. Nas cenas de estúdio, cenários e iluminação chamam a atenção. Assim como Griselda, personagem que no Brasil foi de Lilia Cabral e agora é defendida pela estrela venezuelana-americana Sonya Smith, de 42 anos, loura e de olhos azuis, que aparece de rosto lavado. Novelas hispânicas, como também se sabe, costumam abusar da maquiagem.

— Esta é a novela mais pré-produzida e produzida da história da Telemundo. E isso tem que ser uma norma daqui para frente — diz ao microfone o presidente do canal, Emilio Romano, propondo um brinde logo após a estreia, enquanto garçons oferecem uma rodada de champanhe.

O trabalho começou há um ano. O comando da Telemundo esteve no Projac com integrantes da equipe, composta de 150 pessoas. Técnicos da versão brasileira passaram uma temporada em Miami supervisionando a produção. A trama foi enxugada — de 180 para 130 capítulos, de 70 para 34 personagens — e sofreu adaptações para se adequar ao público-alvo. Alguns personagens foram rebatizados: René Velmont, vivido por Dalton Vigh na primeira versão, aqui se chama Reinaldo Ibarra, interpretado pelo ator argentino Juan Soler, que era um dos maiores galãs da Univision, o canal concorrente, e faz sua primeira novela como contratado da Telemundo. E o mordomo Crô, fiel escudeiro da vilã Tereza Cristina, agora é Ro (leia mais na próxima página).

— Essa produção é realmente um avanço. Parece mesmo uma novela brasileira — diz o diretor da atração, Claudio Callao, brasileiro que trabalhou por 15 anos na Venezuela, depois de passar por Portugal e Espanha, e hoje mora em Miami. — É, pela primeira vez, uma novela absolutamente real. Uma novela que se parece com a vida.

O primeiro remake internacional de uma novela da Globo foi produzido justamente pela Telemundo: “El clon” (“O clone”), que estreou em 2010, foi gravado na Colômbia. Desde então, já ganharam versões de “Louco amor” (na TV Asteca, do México), “Laços de sangue” (executada pela SIC com texto até então inédito, apresentado à Globo pela própria emissora portuguesa, e que acabou ganhando um Emmy) e “Dancin' days” (também na SIC, atualmente em cartaz em Portugal). Novas empreitadas já estão em negociação, com a Telemundo inclusive.

— Estamos num momento em que a qualidade dos nossos produtos só pode subir. “Marido en alquiler” é um divisor de águas. Cenários, iluminação, atuações, edição de música, a coisa toda. Posso dizer que foi um investimento bem maior do que o normal. Trabalhamos com o dobro de atores que costumamos usar nas novelas — diz Joshua Mintz, vice-presidente executivo da área dramática e gerente-geral dos estúdios Telemundo, na tarde seguinte à estreia.

De um monitor em sua sala vê-se a gravação da novela ao vivo no estúdio: tem um homem morto ao pé da escada e Tereza Cristina (a colombiana Maritza Rodríguez, que aliás é casada com Mintz, no papel que foi de Christiane Torloni) grita ao telefone. Vamos até lá. A profundidade do cenário, que permite uma mobilidade até então rara nas novelas em espanhol, é uma novidade. Outra: tudo — o chão de mármore, por exemplo — é de verdade. Nunca tinha sido assim.

— Foi muito importante para nós termos trabalhado ombro a ombro com a Globo — diz Aurelio Valcárel Carroll, vice-presidente executivo de produção dos estúdios Telemundo, ressaltando que os workshops no Rio e a presença de técnicos brasileiros (a produtora de arte Maria Rita Pancada, o diretor de fotografia José Tadeu Ribeiro e o cenógrafo Mauricio Rohlfs) em Miami foi fundamental: — Conhecemos a origem e o final da novela, os problemas que viraram fortalezas. Aprendemos a construir os cenários e a iluminar para dar veracidade. Creio que é um novo padrão para as novelas hispânicas. É uma nova proposta e é o que queremos daqui para frente.

Sonya Smith, a Griselda, está adorando dar conta do recado.

— Tudo nessa produção tem sido cuidado de tal forma que nada passa despercebido. E o libreto tem muita comédia, enquanto as novelas hispânicas costumam ser mais dramáticas, ou trazer um humor excessivo, mas essa tem uma interação precisa dos dois. É mais realista. Tem inclusive uma coisa até então inédita por aqui, de os atores falarem seus textos com menos marcação, como na vida — diz ela, que de “Fina estampa” só viu o primeiro capítulo, por iniciativa da direção em Miami.

Nos EUA, conta Raphael Corrêa Netto, diretor-executivo de negócios internacionais da Globo, a população hispânica é a que mais cresce em número de pessoas e renda:

— Os hispânicos são a maior minoria do país. E a televisão hispânica precisa evoluir por causa das novas gerações.

Diretor de negócios internacionais da Globo, Ricardo Scalamandré comemora o sucesso das coproduções em geral e de “Marido em alquiler” em particular:

— Há 40 anos vendemos nossas novelas dubladas para o mundo. Depois vieram os canais internacionais: são sete sinais, com 600 mil assinantes premium. Há seis anos, foi aberta a linha de coproducão. Vendemos o formato, o desenho artístico todo. E essa novela está sendo realmente feita a quatro mãos.

— É um projeto da Globomundo — diverte-se Guilherme Bokel, diretor de desenvolvimento artístico internacional da Globo, que supervisiona a novela.

Fonte: O Globo

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