segunda-feira, 18 de novembro de 2013

“O Rebu” será o próximo remake das 23 horas


Imagine uma novela cuja ação se passa em apenas três tempos: durante uma festa (a maior parte), o dia seguinte à festa, e cenas de flashback, apresentando os personagens e os dramas que eles levaram para a festa. Agora pegue esses três tempos e tire a linearidade da ação, ou seja, embaralhe a sequência de cenas.

Vamos confundir um pouco mais: nesta festa aconteceu um crime – um corpo foi encontrado boiando na piscina da casa. Quem matou a vítima? Na manhã seguinte à festa começam, portanto, as investigações sobre o assassinato. Uma trama policial fica ainda mais difícil de entender se a narrativa não tem linearidade. Inclusive porque, na história – além do mistério “quem matou?” -, também não fica claro para o público quem é a vítima. Portanto, são três questões: de quem é o corpo que está boiando na piscina, quem o matou e por que matou? Moradores da casa, convidados da festa, empregados?

Este é o quebra-cabeça que o público teve que montar durante a novela “O Rebu”, de Bráulio Pedroso (1931-1990), exibida pela Globo em 1974 – escolhida para ser o próximo remake a estrear, às 23 horas, no ano que vem. Revolucionária em sua narrativa – pela primeira vez uma telenovela perdia sua linearidade temporal – “O Rebu” foi mais uma tentativa de subverter o gênero. Bráulio Pedroso (de “Beto Rockfeller”) não havia tido uma boa experiência com sua novela anterior na Globo, “O Bofe” (1972), uma trama absolutamente debochada. Com “O Rebu”, o autor usou de metalinguagem para apresentar uma história policial então inédita em nossa Teledramaturgia.

Comentou Bráulio sobre sua obra: “… um rompimento com a linearidade temporal, uma tentativa de aproximação com a metalinguagem. A proposta me satisfazia porque era a de mostrar, através de um veículo que leva meses para dizer alguma coisa, uma história que se passava num dia só. Por outro lado, em termos de continuidade, tinha a inovação de ser contada em vários tempos narrativos.'' (“Bráulio Pedroso, Audácia Inovadora“, Renato Sérgio, Imprensa Oficial do Estado de SP, 2011)

O anfitrião da festa era o banqueiro Conrad Mahler (última atuação de Ziembinski na TV) que ofereceu a recepção a uma princesa italiana em visita ao Brasil. Os convidados eram homens ricos e influentes, e suas respectivas esposas. Cada qual levou à festa seus problemas e pequenos dramas, o que só fazia aumentar a lista de suspeitos pelo crime. O próprio anfitrião Mahler tinha um drama: sua conturbada relação com o garotão Cauê (Buza Ferraz), que vivia sob sua proteção. O rapaz era apaixonado pela jovem Silvia (Bete Mendes), mas não queria assumir o namoro com medo de perder a herança do velho banqueiro, que lhe era destinada.

Pela primeira vez a homossexualidade foi abordada de uma forma mais realista em uma telenovela. No entanto, este era um tema tabu na televisão da década de 1970, vigiada pela censura do governo. Não ficava explícito para o público que Mahler tinha um caso com Cauê. Mas, para um bom telespectador, bastava meia cena, ou meio diálogo.

Não vou entregar o ouro, mas qualquer pesquisa rápida na Internet revela o grande mistério de “O Rebu”: quem morreu, quem matou e por que matou? Acredito que os responsáveis pelo remake (George Moura no roteiro e José Luiz Villamarim na direção) vão mudar o desfecho da história, já que o que segura uma trama policial é seu o mistério até o fim. Um “remake por remake” não faz sentido nesse caso. Uma adaptação é totalmente necessária.

“O Rebu” não foi um grande sucesso de audiência. Mas é uma das novelas mais elogiadas de todos os tempos. A exigente crítica Helena Silveira (1911-1988) era fã incondicional da obra. Na década passada, Carlos Lombardi, ainda na Globo, manifestou seu desejo de reescrever a história, mas o projeto acabou engavetado naquela ocasião.

Uma curiosidade envolve o título da novela: “rebu” é uma abreviação de “rebuliço”, ou seja, confusão, tumulto, algazarra. Mas “rebu” também foi uma expressão criada pelo espirituoso colunista social Ibrahim Sued, na década de 1970, para designar um amontoado de mulheres bonitas em uma festa – ou seja, um “rebuceteio” (lembra da pornochanchada “Oh Rebuceteio''?!). Rebu acabou significando “festa”. Tudo a ver com a novela: uma festa onde acontece uma confusão. Já sobre o palavrão, diria o debochado Ibraim: “Sorry periferia!”.

Fonte: Nilson Xavier, do UOL

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