quarta-feira, 1 de junho de 2016

"Totalmente Demais" acerta e cai no gosto popular


Terminou nesta segunda-feira (30), a novela “Totalmente Demais”, escrita por Rosane Svartman e Paulo Halm, com direção de Luiz Henrique Rios, na Globo.

Sucedendo a insossa “I Love Paraisópolis”, “Totalmente” tinha a missão de continuar a fazer subir os índices do horário, que já vinham numa crescente desde o término de "Geração Brasil" e começo de "Alto Astral", no final de 2014.

Os autores, além de terem elevado a faixa à um patamar não visto desde 2012 com "Cheias de Charme" e cada vez mais raro de se alcançar por conta de novas mídias, conseguiram contar uma história de amor que realmente fisgou o telespectador como há tempos não acontecia.

Particularmente, não via uma movimentação tão grande assim em final de novela desde "Avenida Brasil" (2012). O último capítulo de "Totalmente Demais" ganhou ares de evento e chamadas plasticamente perfeitas da Globo, num grande suspenso.

A história pegou. O folhetim ganhou contornos de fenômeno, mas não inventou a roda, nem teve a pretensão de impressionar com imagens exuberantes ou fotografia mais rebuscada. A trama apostou em histórias clássicas, mas certamente o motivo (ou um deles) foi exatamente a maneira cativante como tudo isso acabou acontecendo.

Vamos aqui para um raio-X e "destrinchar" a novela e tentar entender por que "Totalmente Demais" foi uma história de amor que "mexeu com o Brasil" (ganhando elogios até da concorrente Record, que adiou "Escrava Mãe" em função dela), como faz questão de ressaltar as chamadas da emissora.


O verdadeiro romance das sete e o triângulo

Contar a história de uma menina pobre rumo ao sucesso não é novidade. Mas Rosane Svartman e Paulo Halm não ficaram só no básico e adicionaram mais sofrimento na vivência de Eliza (Marina Ruy Barbosa).

Sofredora, ela vivia no interior do Rio de Janeiro quando seu padrasto, Dino (Paulo Rocha), começou a ter uma visão diferente da afilhada. Depois de sair da infância e a ter seu corpo desenvolvido, o padrasto virou vilão, querendo Eliza pra ele.

O assédio doméstico, um tema bastante delicado, começava a ganhar força, e também a torcida dos telespectadores. Para compor o núcleo, uma mãe cega de amor pelo marido, Gilda (Leona Cavalli), e dois irmãos.

O sonho da mocinha? Chegar no Rio de Janeiro, prosperar e levar toda a família pra lá, longe do padrasto.

O romance ganhou uma pequena pincelada logo no primeiro capítulo, quando Arthur (Fábio Assunção) parou seu visto carro vermelho no bar de beira de estrada da família da ruiva e passou a denominá-lo como "príncipe".

A trama ganhou força e foi no Rio que Eliza encontrou seu parceiro, Jonatas (Felipe Simas), por quem viria a se apaixonar mais tarde.


Mais amor, por favor - Geralmente, entre o casal protagonista, há sempre o vilão.

O que dividiu muita gente na espinha dorsal da trama foi a ausência da tradicional figura tirana e sem escrúpulos.

Arthur, apesar de não ser santo, tem seus encantos, e foi transformado depois que se apaixonou por Eliza. Uma relação construída com a convivência e aprovada por grande parte dos telespectadores, apesar da evidente diferença de idade, o que na opinião de muitos, é motivo de desaprovação.

Já com Jonatas, o sentimento era outro: o de descoberta, o de ter passado por poucas e boas nas ruas, da cumplicidade, parceria. Um amor oriundo da dificuldade. A ruivinha e o ex-vendedor de balas cresceram juntos.

Entendo perfeitamente as duas torcidas, mas acredito que os autores tiveram uma escolha coerente com o parceiro de Eliza em seu desfecho.

As chamadas já alardeavam: "Um amor que sobreviveu às ruas. Um amor que sobreviveu às armações. Um amor que sobreviveu ao perigo. Mas será que esse amor vai sobreviver à distancia?". Nesta chamada do último capítulo, o final estava decretado com todas as explicações no texto.

Como se tudo isso não bastasse, o grand-finale ficou por conta do transplante de fígado, onde Eliza se prontificou a doar parte do seu para Jonatas, depois de ter sido esfaqueado. Um amor puro. Sem jogos ou apostas, como a relação que a ruiva teve com Arthur.

Arthur é um cara extremamente presunçoso, arrogante e sempre quando teve a oportunidade, "cresceu" pra cima de Jonatas e sempre o tentou diminuir como o chamando de "jovem proletário".

Questão de ponto de vista. Arthur tem suas qualidades, mas para ficar com Eliza, realmente, os autores foram coerentes (sem guerra!).


Núcleo cômico apurado - Grandes personagens de "Totalmente Demais" roubaram a cena diversas vezes.

Florisval (Aílton Graça), grande fio condutor desse negócio, foi peça chave na divertida novela das sete. Não só ele, como seus dois (ou três?) filhos, a mulher Rosângela (Malu Galli) e a ex, Maristella (Aline Fanju) construíram seus personagens na medida.

Todo esse núcleo teve atuações impagáveis, conflitos e situações verdadeiramente engraçadas, a ponto de fazer inveja nos humorísticos da casa.

Já no bairro de Fátima, a mesma coisa. Cassandra (Juliana Paiva) liderou o núcleo com maestria e momentos que era pedido mais drama, a atriz conseguiu desempanhar bem essa função. Coisa que muitos duvidavam.

Outro que teve grande destaque foi Max (Pablo Sanábio). Fez muita gente soluçar de rir.

Família Bastille

A trama amadureceu como um todo, mas em especial as histórias de Fabinho (Daniel Blanco). No início, fazendo parte de um movimento para que o Rio Tamanduá não fosse poluído, ele tinha, além de seus ideais, um conflito quase que diário com seu pai, Germano (Humberto Martins), na tentativa de provar sua importância e competência.

Germano, aliás, que viveu diversas ocasiões, até a descoberta que Eliza era sua filha.


As apostas - O grande ponto de partida aqui é entre Carolina (Juliana Paes) e Arthur. Sobretudo quando Eliza ainda era florista e ele disse que seria capaz de transformá-la numa grande modelo e vencedora do concurso Garota Totalmente Demais.

Carolina, apesar da conduta duvidosa, jamais foi uma vilã tradicional. Teve seu lado humano contado desde o início, como o desejo de ser mãe.

A relação entre Carolina e Arthur também teve torcedores.

Nem tudo são flores... - "Totalmente Demais" não foi perfeita. Teve seus problemas, e acabou irritando o telespectador em alguns momentos.

A obsessão de Lu (Julianne Trevisol) por Rafael (Daniel Rocha) no começo da trama foi um deles. As tentativas da jornalista de se aproximar do fotógrafo beiravam a infantilidade, mas essa situação foi resolvida em algum tempo.

A novela destoou de verdade com a volta de Sofia (Priscila Steinman). Atriz competente, sabendo aproveitar bem as nuances e as duas caras da personagem, mas seu regresso à história não colou.

O motivo, definitivamente, não convenceu. Um ponto fora da curva, mas que serviu, ao menos, para juntar novamente Lili (Vivianne Pasmanter) e Germano.

Último capítulo - O último capítulo cumpriu o que prometeu. Uma ressalva: o chroma key, técnica utilizada para projetar as imagens de Paris ao fundo, ficaram bastante aquém. Até o telespectador menos atento percebeu a qualidade duvidosa da imagem.


A participação de Gabrielle Aplin, intérprete da música "Home", de Eliza e Jonatas, também não foi bem inserida na cena final. Esperava algo mais natural.

Considerações finais

"Totalmente Demais", sem dúvidas, entra para o hall de umas melhores telenovelas dos últimos anos. Sobretudo no horário das 19h30, que não emplacava uma boa história há algum tempo.

Os autores conseguiram costurar histórias, entrelaçar personagens e contar bons romances.

Fenômenos como esse estão cada vez mais raros de acontecer, e certamente tardará até que chegue outro.

Fonte: Thiago Forato, do Na Telinha

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