domingo, 4 de setembro de 2016

Walcyr Carrasco contesta críticas às suas novelas


Encerrada há uma semana, Eta Mundo Bom! foi a novela das seis de maior sucesso desde 2007, mas o autor Walcyr Carrasco, 64 anos, se lembra muito bem das críticas que ouviu durante a exibição da trama. Reconhecido por novelas de época com histórias leves que rendem boas audiências nessa faixa de horário, ele não gosta de ouvir que tem uma "marca registrada" e não apresenta elementos novos em suas criações.

"A gente costuma rasgar o passado, não só na política como na cultura também. Volta e meia me perguntam: 'Mas você não vai fazer nada de novo?'. Eu respondo: 'Novo não é necessariamente bom'. Acho que Eta Mundo Bom! fez uma coisa de novo: resgatar a linguagem do melodrama em sua essência, fazer o melodrama tal como ele é, com todas as regras. Tudo que poderia acontecer no melodrama estava lá, o fiz elevado ao máximo. Tanto que o tom de interpretação dos atores não era naturalista, era um tom meio teatral o tempo inteiro. Não foi nada de novo, mas resgatar o melodrama não é uma coisa significativa em si?", questionou durante um debate no seminário do Obitel (Observatório Ibero-americano de Ficção Televisiva), realizado na USP (Universidade de São Paulo) na quinta-feira (1º).

A observação em relação ao estilo recorrente de Carrasco tem origem no fato de Eta Mundo Bom! ter sido parecida com Chocolate com Pimenta (2003) e Alma Gêmea (2005). "Há essa cobrança do novo, [mas] pode ser uma releitura. Quase tudo que se diz novo é uma releitura", afirma.

A própria Eta Mundo Bom! foi inspirada em obras de outros autores. Além da homenagem aos filmes de Mazzaroppi, a personalidade do protagonista Candinho (Sergio Guizé) foi baseada no conto Cândido, de Voltaire, em que o jovem protagonista não percebia maldade nas pessoas e tinha uma visão otimista do mundo. Já a trama de Romeu (Klebber Toledo), golpista que se apresentava como comprador de fazendas, se aproveitava dos fazendeiros e ia embora sem dar satisfações, tem origem no conto O Comprador de Fazendas, de Monteiro Lobato.

"A gente comprou o argumento de Voltaire e a história de Monteiro Lobato. A partir disso, eu construí a novela. O que eu resgatei foi minha memoria afetiva e o humor daquela época. Fiquei muito feliz ao saber que esse humor está presente, que é possível", diz Carrasco.

Durante o debate, Carrasco falou também sobre Amor à Vida (2013), sua primeira novela das nove, que já foi exportada para 30 países e se tornou a trama mais popular no Uruguai em 2015.

"A ideia muito forte em mim era de que eu queria muito fazer uma novela contra o politicamente correto. Por isso coloquei um personagem assim [Félix, interpretado por Mateus Solano]. Porque, hoje em dia, se você falar sobre o mundo gay e colocar uma bicha má, todo mundo te desce o açoite. Se você coloca uma bicha, ela tem que ser boa, simpática, senão você está falando mal do mundo gay. Isso acontece também quando você coloca um negro em uma novela. Se colocar que ele é mau, está fazendo um ataque racista. [Na verdade] Não, você está fazendo um personagem que por acaso é negro e pode ser bom ou mau, como são as pessoas no mundo", explica.

Em alta na América Latina, Carrasco prefere relativizar seu desempenho como autor. "Não tento teorizar o sucesso, ele não admite teorias. É muito mais um trabalho em conjunto", conclui.

Fonte: Notícias da TV

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