sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Nunca morreram tantas celebridades como em 2016


Sou uma pessoa que faz listas. Anoto todos os filmes que vejo, os livros que leio, os famosos que se foram. A cada ano e há muitos anos.

Então, fui rever minha lista dos mortos de 2015. É de cortar o coração: lá estão atrizes consagradas como Marília Pera, Yoná Magalhães, Odete Lara, Betty Lago e Maria Della Costa. O multitalentoso Miele. Bobbi Kristina, a filha de Whitney Houston, que teve um destino tão trágico como o da mãe. E Cristiano Araújo, morto com a namorada num acidente que chocou o Brasil.

Estou omitindo um monte de outros nomes: a lista de 2015 tem duas páginas. Aí fui comparar com a lista de 2016. Adivinha? Três páginas e meia. E não para de crescer, claro. Só esta semana, acrescentei George Michael, Carrie Fisher e Debbie Reynolds.

A morte sequencial dessas duas atrizes, mãe e filha, deu a nítida sensação de que o ano que termina está tirando sarro da nossa cara. Parece uma resposta pirracenta à comoção mundial que se seguiu ao falecimento do cantor britânico, dois dias antes: Ah, é? Vocês acharam demais? Vocês não sabem o que é demais.

Muita gente anda se perguntando se está mesmo morrendo mais gente famosa do que antes. A resposta curta e rápida é sim, está. Mas por quê?

Os astrólogos culpam a conjuntura aziaga, com Urano se desentendendo com Plutão ou coisa que o valha. O desarranjo astral seria responsável não só pelo elevado número de mortes, como também pelas convulsões políticas que o planeta vem experimentando: do Brexit à eleição de Trump, do impeachment de Dilma à destruição de Aleppo.

O fato é que todas essas notícias, aliadas à terrível situação econômica do país, nos deixaram ainda mais sensíveis. Choramos como terríveis injustiças as mortes de celebridades bastante idosas, como se isto não fosse a ordem natural das coisas.

Mas, e os desastres, como o que matou quase todo o time da Chapecoense e mais duas dezenas de jornalistas na Colômbia? Ou os artistas que se foram de repente, no auge da carreira, como Domingos Montagner? Sinto dizer, mas tragédias como essas acontecem todos os anos. Vide Cristiano Araújo, 2015.

Como alguns artigos já apontaram, estão morrendo mais famosos porque hoje em dia EXISTEM mais famosos. Antigamente, eles surgiam, basicamente, apenas do cinema, da música e olhe lá. Hoje também vêm da TV, do esporte, da política, das artes plásticas, da literatura, das redes sociais.

Ah, sim, as redes sociais, nossas modernas câmeras de eco, que repercutem ao infinito qualquer banalidade das nossas vidas - imagina, então, quando morre alguém importante. Elas também têm um papel crucial nessa sensação de que nunca, jamais, um ano foi tão impiedoso.

Tivemos a mesma impressão no final de 2015. Mas não é mera impressão: 2016 foi mesmo impiedoso com a classe artística.

Fonte: Tony Goes, do UOL

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