sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Márcio Canuto celebra 35 carnavais


O Carnaval 2017 para Márcio Canuto já começou. Na verdade, nunca terminou. Há 35 anos cobrindo os desfiles das escolas de samba pela Globo, o efusivo jornalista alagoano de 70 anos acredita que todo dia é dia de estar na folia com o povão.

“Às vezes me olho no espelho e não acredito que tenho esse fogo”, diz Canuto em entrevista ao UOL minutos antes de entrar ao vivo pelo “SPTV” direto da quadra da Águia de Ouro, na Pompéia, zona oeste de São Paulo.

O assédio constante não atrapalha em nada, garante Canuto. Pelo contrário, o repórter abraça, beija, pega no colo e encosta a testa na cabeça dos admiradores. É tão carinhoso que às vezes fica difícil saber quem está tietando quem. “Sou um especialista em povão”, resume.

A simpatia genuína também é uma estratégia para que o trabalho dê certo. O segredo de um bom ao vivo, ensina Canuto, é transformar todos os envolvidos em coautores da reportagem. “Você está na casa deles, precisa trazê-los para junto de você. Todo mundo precisa sentir que ajudou um pouquinho”.

Para evitar surpresas, a equipe do “SPTV” grava uma sequência antes e manda para a redação. “Enquanto eu estou ao vivo, vai correndo um VT em paralelo. Se dá alguma coisa errado, pelo menos já tem a salvação”, profetiza o jornalista, mais do que familiarizado com a lei de Murphy (“se algo pode dar errado, dará”). Até por isso ele mantém o hábito de fechar os olhos e rezar antes de entrar no ar. “Também converso com a câmera. Não é de todo mundo que ela gosta”, brinca. 


Como esperado, o ao vivo de 3 minutos com Canuto sobra em empolgação, mas nem tudo corre bem. O repórter dá uma leve engasgada enquanto fala.  A parte de trás da saia de uma das passistas desprende e ela arremessa a peça pelos ares. Animada demais, uma ritmista derruba o chocalho no chão. Felizmente, nada é flagrado pelas câmeras e só por mais um dia Canuto não vira meme.

“Jornalismo era na raça” - Para entender a missão de Márcio Canuto é preciso voltar a 1962, quando então com 16 anos, ele foi trabalhar no jornal Diário de Alagoas. “Com 17 anos eu já era editor. Virei editor muito mais por abnegação do que por competência. Os caras faziam jornalismo como um bico, e eu já comecei para arrombar, trabalhando desesperadamente”, lembra, rindo da rotina puxada que começava às 18h e terminava 1h da manhã. “E ainda estudava. Tudo foi acontecendo de maneira acidental. Lá na minha terra não tinha faculdade de jornalismo. Eu fiz faculdade de administração. Jornalismo era na raça”, continua.

Depois da experiência em veículos impressos, Canuto foi para o rádio, onde moldou o jeito irreverente de falar, sua marca registrada até hoje. Mas foi em frente às câmeras, como repórter esportivo na TV Gazeta de Alagoas, que ele encontrou sua vocação: a reportagem com apelo popular.

Um de seus feitos mais engraçados durante os 23 anos na afiliada da TV Globo de Maceió foi “viralizar” o jogador Jacózinho. Nas matérias, exibidas pelo “Globo Esporte” nos anos 80, ele fazia campanha para que Evaristo de Macedo, então técnico da Seleção, convocasse o atacante do CSA.


Já acostumado a fazer coberturas para outras praças da TV Globo, inclusive o Carnaval de São Paulo e Rio de Janeiro, Canuto só se mudou de vez para capital paulistana em 1998. “Não sei é pretensão minha, mas em Alagoas eu já tinha debulhado tudo. Já tinha ganhado todos os prêmios, todas as comendas”. Aos 50 anos, ele aceitou o convite da direção de jornalismo da Globo para fazer parte da equipe do “EPTV” e posteriormente do “SPTV”, onde ganhou a alcunha de “fiscal do povo”. No mesmo ano, ele realizou um sonho e foi cobrir o Mundial da França.

“Fiz a Copa do Mundo sem credencial. Tinha que fazer uma matéria por dia. Teve umas coisas engraçadas. Acho que fui a primeira pessoa a promover um churrasco na beira do Rio Sena. Juntei uma colônia brasileira e fiz uma matéria sobre isso. Era meio mimica, meio 'alagoanês'”, lembra.

De volta à quadra da Àguia de Ouro, Canuto está até um pouco ofegante de tanto falar. Após mais de cinco horas em pé, ele se senta pela primeira vez no dia. Enquanto recupera o fôlego com ajuda do leque da produtora Fernanda, ele reflete sobre os 54 anos de carreira e a possibilidade de se aposentar.

“Não sei, não tenho pretensão, não. A gente está numa profissão que todo dia é uma descoberta. Eu estou tocando o rodo. Eu tenho o fogo, tenho a chama, e essa chama está acesa”.

Fonte: UOL

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